18 fevereiro 2008

INTERNET COM SABOR BRASILEIRO: ENTRE QUE A CASA É SUA


WASHINGTON - Não fomos nós, brasileiros, que inventamos a internet. Foi o Pentágono. A idéia era facilitar a troca de informações entre centros de pesquisa civis e militares e a burocracia estatal que "toca" os Estados Unidos, enquanto o presidente faz de conta que manda com todo aquele cerimonial da Casa Branca. Porém, podemos dizer com orgulho que estamos reinventando a rede.

O primeiro sinal de que isso estava acontecendo foi o fenômeno Orkut, o site de relacionamentos que cresceu mais no Brasil do que em qualquer outra parte do mundo. Só hoje os Estados Unidos têm um site com a "pegada" do Orkut brasileiro, o Facebook.

Tenho lá minha teoria sobre os motivos desse descompasso: os americanos são utilitaristas. Conceberam a internet como uma ferramenta para troca de informações. E embora no Brasil esse também seja o papel primordial da rede, minha convivência com os leitores do site me fez ver que eles querem mais do que isso.

A internet brasileira é "gregária". Não é ferramenta apenas para "cumprir tarefas". É um "estado de espírito", uma "praça do interior", um "comício", um "teatro cômico", um ponto de encontro que às vezes se parece com arquibancada de estádio de futebol. Fico estupefato quando alguns leitores mais sensíveis conseguem perceber até meu estado de espírito quando apareço pela primeira vez, de manhã, para me dar conta do que eles estão fazendo com o espaço que já não considero meu.

Quando desisti de minha carreira de repórter de televisão para me dedicar integralmente à internet eu estava atrás de entender esse "mundo" e suas peculiaridades. Acho que já cheguei aos 5%.

Dizem que os repórteres de TV se dividem entre os que acham que são deuses e os que têm certeza. A internet me fez mais humilde, até mesmo por precaução. Eu jamais pregaria vacinação em massa contra a febre amarela sabendo que a Conceição Lemes, em questão de segundos, poderia arrancar o meu couro.

A "internet brasileira" também é resultado de características específicas de nossa sociedade. Algumas dúzias de jornalistas e comentaristas, trabalhando no eixo Rio-São Paulo-Brasília, sempre exerceram o monopólio da opinião. Muitos continuam achando que têm o poder de "conduzir" o público, feito os antigos lanterninhas nas salas de cinema. Essa gente expressa o provincianismo, o desprezo, a falta de informação e a prepotência com que a elite brasileira sempre tratou o "resto" do Brasil.

Houve um tempo em que a distância entre São Paulo e Natal era de milhares de quilômetros. Agora, caiu para alguns minutos. É o tempo que um potiguar leva, hoje em dia, para postar na internet a informação que não saiu na TV porque alguém decidiu que não era notícia.

É o Azenha se superando.

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