25 setembro 2008

Foi assim:
completou-se um ano da tua morte, meu irmão, e torço pra que Freud esteja certo a respeito do luto de parentes próximos.

Espero passar um dia, ao menos, sem lembrar-lhe. Não que queira esquecê-lo, mas é dificíl que a lembrança venha e não traga consigo a tristeza, a lembrança da perda.

Mas vou dizer-lhe adeus, vou despedir-me de você e pedir ao tempo que traga a serenidade e consciência de dever cumprido com o destino, com o passado e com o futuro.
Te prometo cuidar do Pedro, teu afilhado, e amar a todos que merecem o amor.

Adeus, cara, e obrigado por tudo, por todas as boas lembranças. Obrigado por ter sido uma das pessoas mais inteligentes que conheci, ter sido um companheiro leal e por ter me ajudado a entender melhor a vida e, agora, a morte.
Desculpe se, em vida, nunca soube te dizer o quanto você era importante pra mim. O quanto você era especial.
Me desculpe se eu não fui o irmão que você queria.

Adeus e fique com Deus.

24 setembro 2008

Às vezes temos que nos esconder para escrever. Nâo de nós mesmos, mas daquilo e daqueles que importunam nosso sossego e nossa intimidade, nossos segredos. Mas se vamos publicar o que escrevemos, para quê nos escondermos?

Vim pensando nisso hoje no trajeto até o trabalho, enquanto procurava o que escrever sobre o dia de hoje, onde se completa um ano da morte de meu irmão, às 18.30 hs. Tinha falado com ele por telefone às 10 hs da manhã daquela segunda-feira de setembro de 2007, depois de ter ficado com ele dias 19, 20 e 21, já que tinha viajado para lá  às pressas por causa do falecimento de um tio muito querido, Natalício (cheguei lá depois do velório, mas consolei minha tia e meus primos e tenho certeza que minha presença foi importante pra eles).

Naqueles três dias de setembro tomamos cerveja, conversamos sobre a infância e outros assuntos que nunca tínhamos conversado antes, como a morte dos nossos pais, a dificuldade que tiveram para nos dar educação e na luta que era para manter a família, enfim, assuntos que nos eram caros, talvez até porque sempre tivéssemos feito questão de esquecer aqueles assuntos.
Ele era padrinho de meu filho, por isso sempre perguntava por ele e expressava a alegria de tê-lo como afilhado. Estava feliz, tinham comprado um computador e aguardava a chegada da internet em casa, o que abriria novos horizontes. Lembro que levei pra ele uma placa de vídeo e um reprodutor de cd que eu não estava usando mais, os quais ele guardou. Visitamos uma loja de informática na cidade e lá perguntei o preços de algumas peças de informática que ele precisaria comprar caso decidisse montar uma máquina melhor. Falamos muito sobre internet, no quanto teríamos coisas para compartilhar e como seria fácil o contato via Msn, e-mail, etc.
       
Enquanto ele preparava o almoço para as crianças( cozinhava muito bem), nós dávamos risadas ouvindo Massacration, banda que eu já conhecia mas que nunca tinha dado muita atenção, comentando as letras das músicas que misturava um inglês "macarrônico" com português. No almoço daqueles dias ele sempre preparou arroz, feijão, ovos e batata frita, que sabia que eu adorava. Era interessante vê-lo cuidando das crianças para irem à aula, ver como meus dois sobrinhos lhe obedeciam, às vezes mais do que à minha irmã, mãe deles.
Não acredito em pressentimento, clarividências e coisas parecidas, mas naqueles três dias que fiquei com ele sentí uma paz de espírito, uma alegria em perceber que a morte do meu tio não era o fim de nada e sim o complemento de coisas que a vida nos trouxe. Ficou claro naqueles dias que a morte trouxe descanso a meu tio, que sofria muito por conta de problemas pulmonares  (vivia à base de oxigênio).

E meu irmão estava feliz. Eu estava feliz.

Quando chegou a sexta-feira eu, já com saudades de casa, resolvi voltar. Ele insistiu para que eu ficasse e retornasse no domingo à noite. Se pudesse voltar atrás, teria ficado.
Nunca esqueço a frase que ele me falou quando eu entrei no ônibus :"De vez em quando me dá uma ligadinha".
Depois o meu sobrinho Murilo, que nos acompanhou até a rodoviária, me contaria que ele chorou depois de minha partida.

22 setembro 2008

A chegada da tv, em nossas vidas.

Era 1978, época da Copa do Mundo, e meu pai fez um negócio com um conhecido da cidade e trouxe pra casa uma tv preto e branco. Foi incrível como aquele aparelho me fascinou, a ponto de ficar em frente a ele todo o tempo que me era possível. Era uma Telefunken, daquelas que não existem mais. Eu tinha oito anos.
Tá certo que era difícil sintonizar algum canal, talvez por causa da precariedade da antena ou porque na época era assim mesmo, mas foi nesse tempo que assistí pela primeira vez, em minha casa, desenhos animados e programas de inglês(letras de música em inglês) do Fisk.

Lembro de um gol do Nelinho, na copa da Argentina, que ele dá um chute com um incrível efeito de trivela e a bola beija as redes. Era o máximo.

Não lembro como meu irmão vivenciou essa época. Ele tinha de seis pra sete anos. Talvez ainda hoje não lembrasse de muita coisa.

21 setembro 2008

Alguns momentos ficam para sempre na memória.
Dias atrás comentava com um colega de trabalho que certas músicas marcaram momentos que hoje, ao ouví-las, me fazem retornar no tempo. Tanto momentos alegres como tristes, tanto faz, a música que tocava naquele instante ressuscita aquele momento.

Talvez tenha sido bom que naquela segunda-feira, dia 24 de setembro de 2007, eu não estivesse ouvindo nenhuma música.
Mas lembro cada detalhe daquela noite, quando em torno das 8 da noite, me ligou a Célia, amiga de minha irmã, lá de Urussanga:
-Você está sentado? - perguntou-me ela.
Naquela fração de segundo, passou-me pela cabeça que minha tia Alvacy tinha morrido, visto a morte do tio Natalício na semana anterior, quando lá estive para o velório, e ela estava bem abalada.

Ela me disse, do outro lado da linha:
-O Bébe morreu.

Bébe era apelido do meu irmão.

Minha reação foi dizer-lhe " não faça brincadeira com uma coisa dessas, Célia"...
Aí ela me disse que ele teve um infarto fulminante enquanto ia até a locadora devolver uns filmes, às seis e meia da tarde daquele dia.
Triste ter ouvido de minha irmã, dias depois, que ele esperou me ver para morrer, visto que só falava de mim o tempo todo, como era bacana a minha casa que ele ajudou a montar, etc...

Não sei se é somente tristeza o que sinto, agora, um ano depois.
Mas Freud definiu que a gente demora um ano para se recuperar da perda de parentes próximos, como pais e irmãos.

Tomara que ele esteja certo.

18 setembro 2008

A minha mãe e o meu irmão

Minha mãe sempre dizia que o meu irmão tinha alguma coisa nos rins, que o levava a ter dores e que não era desculpa dele quando, em alguma atividade(como capinar o quintal) ele se queixava de dores e interrompia a tarefa. Eu ficava puto, pois tinha que terminar o quintal sozinho enquanto o "malandro" ia pra baixo das asas da mãe e eu ficava me fudendo capinando o quintal.
Mas talvez fosse verdade, talvez ele realmente sentisse alguma dor. Hoje acredito que era verdade dele.

O sorriso de minha mãe, com certeza, é o sorriso ideal, aquele que acho lindo nas pessoas, às vezes sem saber porquê. Lembro, particularmente, quando acordava para ir à escola e reclamava, eu, de não ter roupa, de ter de usar sempre a mesma calça e camisa. As explicações um tanto "filosóficas" dela não me convenciam e não amainavam minha raiva infanto-juvenil, mas seu sorriso me trazia um sentimento que na época eu não sabia o que era.
Era amor, era esperança, era minha mãe.

E meu irmão também cresceu nesse ambiente.
Não deu tempo de, com os cabelos embranquecendo, perguntar-lhe o que ele sentia.

Sobre sentimentos, sempre fomos arredios.
Talvez porque não tínhamos muitas lembranças boas da infância pra contar...

17 setembro 2008

A insustentável leveza do ser

Dia 24 próximo fará um ano que o meu irmão morreu.
É incrível como lembro dele todos os dias, numa paisagem, numa música, numa frase que alguém pronuncia que traz junto uma palavra que o lembra, não sei porquê.

Tivemos uma infância muito pobre, daquelas que os pais lutaram para ter o que colocar no prato: começamos a trabalhar muito cedo, ajudando o pai nos "bicos" que ele fazia de pedreiro, carpinteiro, lenhador e etc, etc, etc. Minha mãe era benzedeira e, através de suas benzidas, arrecadava um troco que nos ajudava a sobreviver. Meu pai, analfabeto que sabia assinar o próprio nome, portanto não fazia parte da estatística dos analfabetos, pulava de emprego em emprego, nos seus eternos "bicos".

Minha irmã, meu irmão e eu crescemos lutando pela sobrevivência, é minha conclusão. Natais com presentes baratos(raramente o que pedíamos ao Papai Noel nos era entregue), aniversários sem bolo e presentes, roupas às vezes que minha mãe ganhava de suas "clientes" de benzedura...

Mas aqui estou.

Meu irmão não. Queria que ele estivesse aqui.

14 setembro 2008

Cheguei em casa e fui tomar uma ducha, que ficava do lado externo da casa. Nisso o vizinho, conhecido como Negão, da janela de sua casa me falou que " o seu cachorro, o Sonic, escapou de casa e fugiu". Foi parar numa casa abandonada das redondezas e ele, o Negão, tinha ido atrás mas o cachorro estava muito hostil, não permitia sequer aproximação.
Terminei a ducha e lembrei que o chuveiro, que ficava muito alto, depois de fechado continuava pingando, tendo que ser apertado manualmente para que parasse de cair água. Pedi ao Negão, que era mais alto que eu, se ele não apertaria o chuveiro para mim. Ele pulou o muro e veio até onde estava instalada a ducha. Quando fui pegar uma escada para auxiliá-lo a alcançar o chuveiro, vi-o, de pé, da altura de onde saia a água. O chuveiro havia ficado mais baixo ou o Negão era mais alto que eu imaginava?
Dalí a alguns instantes já estávamos, eu, minha esposa e meu filho, atrás do cachorro que havia fugido. Sonic era o xodó de meu filho, companheiros inseparáveis. Encontramos o animal numa casa em construção, com pedaços de tijolos e madeira por todo lado. Sonic estava numa sala semi construída e, ao ouvir a voz de meu filho, veio correndo. Estava raivoso, e após breve contato voltou correndo para seu isolamento. Enquanto minha esposa e meu filho se retiravam para buscar algo que chamasse a atenção de Sonic (comida, talvez), este veio correndo ao meu encontro, eu esperando dele a lambida no rosto que lhe era tão característica. Mas para minha surpresa e pavor, o cachorro tentava me morder no pescoço, com incrível força e voracidade, que a luta para mim passou a ser a da sobrevivência. Asfixei-o, e minha esposa e filho voltaram no momento em que ele dava os últimos suspiros.
Não sei porque, mas não houve muita consternação.
De repente o corpo do cão diminiu de tamanho, foi enrolado num guardanapo e minha esposa jogou o cadáver num bueiro.

Como podem ser estranhos os sonhos, não é?

13 setembro 2008

Lembranças do meu irmão:


-Não tem nada aí pra gente "molhar a palavra"? - perguntou-me Elvis, depois de uma rodada da Copa do Mundo de 2006. Respondi-lhe que tinha um genérico de Amarula, sob a pia.
Ele levantou-se e dalí a pouco estava com dois copos cheio daquela bebida marrom e adocicada.
Por mais que tenhamos tentado, sobrou muita bebida na garrafa. Era muito doce e o sabor não convencia.

Não lembro se demoramos muito pra desistir da "empreitada"...

05 setembro 2008

E às vezes voltamos, simplesmente porque temos que voltar...

01 setembro 2008

Às vezes, mesmo no erro, devemos procurar a saída para nosso ser.
Somos quem podemos ser.