15 julho 2010

Sozinho, o mercado não disseminou banda larga

Apesar dos indícios de que haveria uma movimentação no cenário da internet no Brasil, é intrigante observar como o anúncio da ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra sobre o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), feito na semana passada, gerou tamanha repercussão.

O debate, que até então ficava mais restrito aos profissionais da área de tecnologia e informática, ganhou uma dimensão de âmbito nacional a partir do momento em que a questão passou a ser vista como um assunto de relevância para a o cidadão.

E extrapolar o universo dos profissionais do setor para começar a enxergar a questão da implantação da banda larga no país como uma questão de prioridade para o acesso de qualidade é o primeiro passo para tornar possível uma web para todos.

Diante disso, é necessário fazer uma distinção entre dois aspectos fundamentais que balizam uma avaliação do que está acontecendo: como os diversos atores da sociedade compreendem a relevância dos serviços de acesso à Internet e de banda larga? Efetivamente é um direito do cidadão, como prevê a minuta do Marco Civil da Internet, ainda em aberto e que será encaminhado ao Congresso, ou somente um serviço de comunicação de valor agregado a ser prestado e explorado pelo setor privado?

Se a visão é que a banda larga é um direito do cidadão, enxergar a "intervenção" do governo no mercado para a massificação da banda larga somente como uma medida política é reducionista, uma vez que é indiscutivelmente necessário um plano, uma ação, diante da constatação de que a nossa banda larga é a mais estreita do mundo.

O Comunicado n° 46 do Ipea, divulgado em abril, apresenta uma análise alarmante da atual condição do acesso à internet em banda larga nos domicílios em Estados como Roraima e Amapá, que é praticamente inexistente. Para ter uma ideia, apenas 16% dos domicílios no Brasil têm banda larga.

Portanto, mais do que criticar a "intervenção" do governo no mercado com a reativação da estatal Telebrás é ter claro que o mercado sozinho não conseguiu disseminar a banda larga no País. E, se continuarmos nesse ritmo, não teremos nunca.

O governo marcou uma posição, acredito que para tirar os atores do mercado da zona de conforto e abrir negociação. Enquanto ainda não sabemos os pormenores da legislação e da intenção de reativação da Telebrás, permanece o desejo de estímulo de uma economia local e uma tecnologia limpa, e de ponta, que realmente possa assegurar o direito do cidadão a ter um acesso de qualidade e com velocidade.


FONTE: http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2010/05/13/sozinho-o-mercado-nao-conseguiu-disseminar-a-banda-larga/