24 setembro 2008

Às vezes temos que nos esconder para escrever. Nâo de nós mesmos, mas daquilo e daqueles que importunam nosso sossego e nossa intimidade, nossos segredos. Mas se vamos publicar o que escrevemos, para quê nos escondermos?

Vim pensando nisso hoje no trajeto até o trabalho, enquanto procurava o que escrever sobre o dia de hoje, onde se completa um ano da morte de meu irmão, às 18.30 hs. Tinha falado com ele por telefone às 10 hs da manhã daquela segunda-feira de setembro de 2007, depois de ter ficado com ele dias 19, 20 e 21, já que tinha viajado para lá  às pressas por causa do falecimento de um tio muito querido, Natalício (cheguei lá depois do velório, mas consolei minha tia e meus primos e tenho certeza que minha presença foi importante pra eles).

Naqueles três dias de setembro tomamos cerveja, conversamos sobre a infância e outros assuntos que nunca tínhamos conversado antes, como a morte dos nossos pais, a dificuldade que tiveram para nos dar educação e na luta que era para manter a família, enfim, assuntos que nos eram caros, talvez até porque sempre tivéssemos feito questão de esquecer aqueles assuntos.
Ele era padrinho de meu filho, por isso sempre perguntava por ele e expressava a alegria de tê-lo como afilhado. Estava feliz, tinham comprado um computador e aguardava a chegada da internet em casa, o que abriria novos horizontes. Lembro que levei pra ele uma placa de vídeo e um reprodutor de cd que eu não estava usando mais, os quais ele guardou. Visitamos uma loja de informática na cidade e lá perguntei o preços de algumas peças de informática que ele precisaria comprar caso decidisse montar uma máquina melhor. Falamos muito sobre internet, no quanto teríamos coisas para compartilhar e como seria fácil o contato via Msn, e-mail, etc.
       
Enquanto ele preparava o almoço para as crianças( cozinhava muito bem), nós dávamos risadas ouvindo Massacration, banda que eu já conhecia mas que nunca tinha dado muita atenção, comentando as letras das músicas que misturava um inglês "macarrônico" com português. No almoço daqueles dias ele sempre preparou arroz, feijão, ovos e batata frita, que sabia que eu adorava. Era interessante vê-lo cuidando das crianças para irem à aula, ver como meus dois sobrinhos lhe obedeciam, às vezes mais do que à minha irmã, mãe deles.
Não acredito em pressentimento, clarividências e coisas parecidas, mas naqueles três dias que fiquei com ele sentí uma paz de espírito, uma alegria em perceber que a morte do meu tio não era o fim de nada e sim o complemento de coisas que a vida nos trouxe. Ficou claro naqueles dias que a morte trouxe descanso a meu tio, que sofria muito por conta de problemas pulmonares  (vivia à base de oxigênio).

E meu irmão estava feliz. Eu estava feliz.

Quando chegou a sexta-feira eu, já com saudades de casa, resolvi voltar. Ele insistiu para que eu ficasse e retornasse no domingo à noite. Se pudesse voltar atrás, teria ficado.
Nunca esqueço a frase que ele me falou quando eu entrei no ônibus :"De vez em quando me dá uma ligadinha".
Depois o meu sobrinho Murilo, que nos acompanhou até a rodoviária, me contaria que ele chorou depois de minha partida.

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